sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Americanos constroem "puxadinhos" astronômicos


Na pitoresca cidade costeira de Gloucester, Massachusetts, em Cape Ann, uma casa de madeira cinzenta se destaca das demais. Ela tem um grande domo branco montado no topo, dotado de uma porta deslizante que se abre para o céu, e abriga um poderoso telescópio. "Minha mulher conseguiu a vista do oceano que ela desejava, e eu minha vista do céu", disse o Dr. Mario Motta, 55 anos, cardiologista e entusiasta da astronomia, sobre a casa que eles construíram três anos atrás.
Em um momento no qual a astronomia amadora está se tornando cada vez mais popular, graças em parte à disponibilidade de equipamento de alta tecnologia como câmeras digitais que filtram a contaminação de imagens pela luz, Motta e sua mulher, Joyce, estão entre o grande número de norte-americanos que começaram a incorporar observatórios às suas casas, novas ou reformadas.
Os fabricantes dos domos para observatórios reportam alta em suas vendas para residências, e novas comunidades residenciais estão sendo desenvolvidas com a opção de incluir reservatórios em suas plantas.
"À medida que os norte-americanos da geração baby boom (os nascidos entre 1946 e 1964) e milionários do setor de tecnologia começam a se aposentar, eles procuram hobbies desafiadores como a astronomia, e dispõem de dinheiro suficiente para bancar a construção de observatórios pessoais", disse Richard Olson, presidente da Ash Manufacturing, de Plainfield, Illinois, que produz domos de aço para observatórios.
Seus clientes costumavam estar limitados a instituições acadêmicas e de pesquisa, mas nos últimos cinco anos, disse ele, há mais proprietários de residências fazendo encomendas, e hoje em dia 25% de suas vendas são destinadas a pessoas como Steve Cullen, 41 anos, vice-presidente sênior da Symantec que decidiu se aposentar e construir uma casa e um observatório em um terreno de 76 hectares em Rodeo, Novo México.
Cullen disse ter escolhido o local porque "ele oferece os céus mais escuros e o tempo mais claro para fotografia espacial que pode ser encontrado nos Estados Unidos". A maior parte dos telescópios sofisticados, hoje, permite o uso de câmeras digitais.
Ele estima um custo total de US$ 340 mil para o observatório, que ainda está em construção. Do montante, US$ 225 mil serão destinados à compra do telescópio, mas o seu observatório é um dos mais sofisticados.
Motta também fotografa o espaço profundo do observatório de sua casa, e posta suas imagens de galáxias distantes online, além de publicá-las em revistas de astronomia.
Ele mesmo construiu seu telescópio, que pesa bem mais de 450 kg, e seria complicado levá-lo para fora caso ele não dispusesse do observatório. E, como a maioria dos telescópios sofisticados, o dele precisa pelo menos de uma hora de cuidadosa calibragem caso seja movido.
"O motivo para que as pessoas não usam seus telescópios é que eles dão muito trabalho para transportar e montar", disse John Spack, 50 anos, um contador que montou um domo de observatório no telhado de sua casa em Chicago, que foi reformada no ano passado. "Agora, se desejo me levantar às três da manhã e observar alguma coisa, basta abrir o visor".
Como os observatórios de institutos de pesquisa e museus, a maioria dos domésticos agora estão equipados de computadores que controlam a rotação do domo de modo que o telescópio seja orientado na direção exata daquilo que o astrônomo deseja observar.
Assim que um ponto no espaço for fixado, o domo continua a girar lentamente de maneira a compensar a rotação da Terra, de modo que o objeto em observação não escape do campo.
"É completamente automatizado, de alta tecnologia", disse Spack, que estimou ter gasto pelo menos US$ 100 mil para construir e equipar seu observatório. Muitos observatórios domésticos também permitem que observadores remotos acompanhem aquilo que o telescópio estiver observando, de qualquer lugar em que disponham de uma conexão com a Internet.
Roy e Elise Furman, proprietários de uma empresa de software, observam o cosmos pelo telescópio do observatório de sua casa de férias em Portal, Arizona, tanto quando estão lá quanto de sua residência principal, em Filadélfia.
"Os céus de Filadélfia têm tanta contaminação de luz que nós ficávamos deprimidos quando tentávamos fazer astronomia", disse Elise Furman, 48 anos. Por isso, os dois compraram a casa em Portal, localizada a cerca de 15 km de Rodeo e parte de um condomínio chamado Arizona Sky Village, criado em 2003.
Metade das 15 casas em estilo regional dispõe de observatórios com domos, e há cinco outras casas equipadas com observatórios em construção. "Somos todos astrônomos amadores dedicados, e passamos o tempo no meio do nada observando o céu com nossos telescópios", disse Roy Furman, 57 anos.
Outros condomínios com a astronomia como tema incluem o Deerlick Astronomy Village, em Sharon, Geórgia, cerca de 160 km a leste de Atlanta, estabelecido em 2004, e o Chiefland Astronomy Village em Chiefland, na costa oeste da Flórida, que foi criado em 1985 como um local no qual astrônomos amadores podiam comprar ou alugar terras para acampar. Nos últimos cinco anos, diversas casas equipadas com domos de observação foram construídas no local.
Essas comunidades encorajam a construção de domos residenciais, mas em outros locais as pessoas "encontram problemas devido a restrições de zoneamento", disse Jerry Smith, presidente da Technical Innovations, produtora de domos em Maryland. A empresa foi criada em 1991, e inicialmente atendia universidades e agências do governo, mas desde 2002 consumidores individuais respondem por 60% de seus 1,4 mil domos vendidos.

Fonte: noticias.terra

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